Essa correção acontecia obrigando os não destros a escreverem com a mão direita, através do uso de várias admoestações físicas – tais como, reguadas nos dedos, cocorotes e outras maldades – e morais, como se a diferença na forma de escrever fosse algo feio e prejudicial.
Na verdade, os pais viam, nesse jeito pouco comum, um grande defeito que mexia com a vaidade deles, porque não admitiam essa “deficiência” em seu filho. A escola, por sua vez, também era obrigada a corrigir essa forma de ser das crianças durante a alfabetização, criando um estigma naqueles que não queriam se sujeitar ao hábito comum: escrever com a mão direita.
O resultado desse radicalismo, por força da ignorância dos pais e dos mestres, fazia com que a caligrafia das crianças canhotas fosse feia durante toda a sua vida, pois estavam forçando a natureza a dobrar-se diante da vaidade ou crítica de terceiros.
Por outro lado, essa busca por correção foi informando à sociedade que aquele problema deveria ser sanado. Tirando-se esse “vício” de escrever com a mão esquerda, não haveria a necessidade de preocupações maiores com esse grupo de pessoas, pois a reeducação iria incluí-las como destras em pouco tempo.
Com dificuldade na escrita da esquerda para a direita, adotada em quase todos os idiomas – devido à mão que cobre o texto, impedindo a leitura durante a escrita – os canhotos são surpreendidos em cada momento, necessitando recorrer ao improviso.
No passado, o uso de canetas tinteiro (aquelas com pena e tinta líquida) obrigava o esquerdo a utilizar um mata-borrão a cada palavra que escrevia para a mão não borrar o texto. Lembremos que a escrita é da esquerda para a direita e a mão que escreve – a esquerda – está sempre passando sobre o escrito.
Vemos no uso do mata-borrão uma ideia que facilitou sua forma de redigir. Esse improviso é apenas um marco do quanto é capaz o canhoto para adaptar-se a um mundo que não lhe pertence.
Hoje já se conhece o porquê dos esquerdos. Os hemisférios direito e esquerdo do cérebro estão com suas funções invertidas. Mas, mesmo com essa consciência, a sociedade pouco tem feito pela acessibilidade dos canhotos a uma série de equipamentos e acomodações.
Apenas para citar algumas situações que obrigam o esquerdo a tornar-se um grande improvisador e, consequentemente, um grande estrategista; temos a abertura de lata e maçanetas de portas, a disposição de complexos mobiliários e de equipamentos como papel higiênico, duchas sanitárias, comandos dos relógios de pulso.
O pensar rápido para a solução de cada demanda emergente não compatível com sua condição, torna o canhoto uma pessoa extremamente preparada para qualquer evento na área profissional e demais atividades do ser humano.