AS MAIS LIDAS DA SEMANA

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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O ESQUERDO


Conhecida popularmente como canhota, a pessoa que escreve com a mão esquerda goza de diversos dotes não encontrados facilmente nos destros. Apesar da existência de um contingente enorme de pessoas que escrevem com a mão esquerda, elas jamais são lembradas pela indústria de móveis e equipamentos. O tentar corrigir, em tempos idos, o “defeito” dessas criaturas, com aparente sucesso, deixou de ser então, essa característica pessoal, uma preocupação para a sociedade.
Essa correção acontecia obrigando os não destros a escreverem com a mão direita, através do uso de várias admoestações físicas – tais como, reguadas nos dedos, cocorotes e outras maldades – e morais, como se a diferença na forma de escrever fosse algo feio e prejudicial.
Na verdade, os pais viam, nesse jeito pouco comum, um grande defeito que mexia com a vaidade deles, porque não admitiam essa “deficiência” em seu filho. A escola, por sua vez, também era obrigada a corrigir essa forma de ser das crianças durante a alfabetização, criando um estigma naqueles que não queriam se sujeitar ao hábito comum: escrever com a mão direita.
O resultado desse radicalismo, por força da ignorância dos pais e dos mestres, fazia com que a caligrafia das crianças canhotas fosse feia durante toda a sua vida, pois estavam forçando a natureza a dobrar-se diante da vaidade ou crítica de terceiros.
Por outro lado, essa busca por correção foi informando à sociedade que aquele problema deveria ser sanado. Tirando-se esse “vício” de escrever com a mão esquerda, não haveria a necessidade de preocupações maiores com esse grupo de pessoas, pois a reeducação iria incluí-las como destras em pouco tempo.
Com dificuldade na escrita da esquerda para a direita, adotada em quase todos os idiomas – devido à mão que cobre o texto, impedindo a leitura durante a escrita – os canhotos são surpreendidos em cada momento, necessitando recorrer ao improviso.
No passado, o uso de canetas tinteiro (aquelas com pena e tinta líquida) obrigava o esquerdo a utilizar um mata-borrão a cada palavra que escrevia para a mão não borrar o texto. Lembremos que a escrita é da esquerda para a direita e a mão que escreve – a esquerda – está sempre passando sobre o escrito.
Vemos no uso do mata-borrão uma ideia que facilitou sua forma de redigir. Esse improviso é apenas um marco do quanto é capaz o canhoto para adaptar-se a um mundo que não lhe pertence.
Hoje já se conhece o porquê dos esquerdos. Os hemisférios direito e esquerdo do cérebro estão com suas funções invertidas. Mas, mesmo com essa consciência, a sociedade pouco tem feito pela acessibilidade dos canhotos a uma série de equipamentos e acomodações.
Apenas para citar algumas situações que obrigam o esquerdo a tornar-se um grande improvisador e, consequentemente, um grande estrategista; temos a abertura de lata e maçanetas de portas, a disposição de complexos mobiliários e de equipamentos como papel higiênico, duchas sanitárias, comandos dos relógios de pulso.
O pensar rápido para a solução de cada demanda emergente não compatível com sua condição, torna o canhoto uma pessoa extremamente preparada para qualquer evento na área profissional e demais atividades do ser humano.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

FELIZES ANOS 70



Iniciamos nossas atividades educacionais em l966 com cursinho preparatório para vestibulares, em seguida, com colégio e, em l974, a Faculdade de Ciências Humanas ESUDA foi autorizada pelo MEC.
Durante toda a década de 70, estivemos em contato direto com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), através, do então extinto, Conselho Federal de Educação (CFE), que hoje é o Conselho Nacional de Educação (CNE). Foi o período em que houve pedido de autorização dos primeiros cursos universitários da ESUDA, reconhecimentos dos cursos, aumentos de vagas, etc.
Apesar da ditadura, o MEC era um primor em democracia e estava sempre perto daqueles que ajudavam a educar o Brasil. Delegacias Regionais (as DEMEC) existiam em quase todas as capitais brasileiras, Recife/Pernambuco era sede de uma delas, a do DGE 09 (Distrito Geo Educacional 09).
Essas delegacias possuíam um corpo técnico especializado que, semanalmente, visitava as Instituições de Ensino Superior (IES) e as Universidades, para verificar as documentações dos novos alunos, cadernetas de anotações dos professores, suas frequências; enfim, avaliar o desempenho da escola.
Quando deslizes ou erros eram verificados, com lealdade, sugestões e orientações eram dadas para solução dos mesmos, a fim de evitar problemas no futuro. Democraticamente, os Técnicos em Assuntos Educacionais (TAEs) aceitavam sugestões, quando boas, para a solução dos problemas que, por acaso, houvesse.
Toda documentação necessária a cada evento acadêmico, como autorização e reconhecimento de cursos, aumento de vagas, mudança de endereço, regimento ou mantença, era constituída de formulários próprios e pré-escritos, nos quais se fazia necessário apenas preencher as lacunas com as diversas opções possíveis, para a livre escolha das IES. Assim, por exemplo, os regimentos de todas as escolas obedeciam a um padrão, onde dispositivos que deveriam constar em todos, facilmente eram identificados, com suas demandas específicas. Consultas não solucionadas pela DEMEC eram encaminhadas, em malotes diários, para Brasília em busca de soluções e, de forma breve, retornavam.
Fazer educação é entregar-se ao diálogo, é ouvir soluções características de um dado evento acontecido em uma instituição de ensino e levá-las, quando em casos semelhantes, para outras instituições. Não existe educação sem o corpo-a-corpo entre MEC-IES, IES-professores, professores-alunos; ou seja, uma comunhão entre todos que fazem o complexo educativo. Muito se insistiu para que os Cursos a Distância tivessem um evento presencial com professor graduado e especialista no curso de seus discípulos. Por que isso? Porque educação é olho no olho e isto nenhuma tecnologia põe para trás.
Infelizmente, hoje, no gozo de plena democracia, o MEC escraviza seus coadjuvantes. As soluções acontecem sempre no imaginário da virtualidade, de forma arbitrária, abrindo-se portfolio de relacionamento ao bel-prazer do Ministério, sem qualquer poder das IES para abertura de diálogo em tempo diferente daquele estabelecido dentro de um dado processo MEC/IES.
Cansei de enviar correspondências ao MEC, para as quais não obtive retorno algum. Durante as discussões iniciais sobre a reforma universitária, em reunião, falei pessoalmente com o representante do MEC acerca de uma visita de um técnico para apreciar alguns programas que deveriam entrar em execução na ESUDA e poderiam servir ao Governo, pois estavam sendo implantados PRO UNI, FIES e outros, assemelhados aos nossos. A resposta foi curta: “Não temos pessoal disponível para isso, mesmo que você pague todas as despesas da viagem”.
O único elo entre MEC e IES é estabelecido por meio do binômio Inep/corpo discente, ENADE, cujo resultado é estigmatizar a escola como se ela fosse uma inimiga da educação brasileira. Nem diálogo! Nem visitas in loco (oito anos atrás fomos visitados)! Nem orientação! Não é assim que se pratica educação. Investem-se fortunas em Enem e Enade para nada, são avaliações claudicantes, que acabam de fenecer. Não é por falta de dinheiro para contratar um maior número de pessoas para as visitações, pois hoje são pagas pelas IES. Na década de setenta, não era assim! Felizes os anos 70!