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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O PORQUÊ DOS PROGRAMAS DE TV SÁDICOS

Os meios de divulgação como a imprensa escrita, a falada, a televisionada e a internet mantêm-se graças aos seus anúncios ou patrocinadores que exigem uma boa parceria com o público. Ora, fazer ou exibir o que o povo procura e gosta é que conquistará os espectadores para os seus programas. Quando as pesquisas elegem determinados formatos de comunicação como excelentes para a maioria, de logo, os comunicadores adotam em suas programações.
A televisão, particularmente, pelo grande poder de penetração nas massas populacionais, é que sofre as maiores críticas quando exibe programas, até certo ponto, desagradáveis, por mexerem nos mitos sociais ou por fazerem apologia a formatos sociais pouco desejados pelos telespectadores. Devemos lembrar que o público maior que dá audiência a uma dada emissora é formado de pessoas pouco instruídas e que são consequência da influência que sofreram dos próprios meios de comunicação.
Assim, quem comanda a mídia é esse público e não a elite intelectual. É esse povo que mais compra de forma indiscriminada, mais utiliza os serviços e frequenta os espetáculos populares; enfim é o público alvo para as emissoras de televisão. Mas, por que a preferência pelos programas sádicos? Aqueles que abusam da condição humana, com desrespeitos físicos e psicológicos, que levam seus personagens a sair do sério, desrespeitando, às vezes, os próprios telespectadores em suas casas.
Lembramos que hoje, desde a infância, a violência invade os meios de comunicação. Os desenhos, antes singelos e dóceis, tornaram-se, hoje, o retrato da cultura dos adultos com figuras amargas e vingativas de aparência mórbida ou assustadora que entram no dia a dia das crianças, tornando-as pouco sensíveis à violência. Dessa forma, na idade adulta, o espírito sádico quer assistir não mais às fantasias do cinema, mas à vivência escrava e agressiva dos personagens, ao vivo, nos diversos programas que fazem do público comum o ator na história.
Ademais, a pouca criatividade, muitas vezes, leva as emissoras de televisão a adaptarem programas estrangeiros, que são traduzidos, com pouco zelo, para nossa sociedade. Aí o problema se torna maior. Temos que absorver, de forma esdrúxula, a vivência de outra cultura em detrimento de nossa história. É pouco o que se pode fazer de imediato para por um freio nesses acontecimentos.
Como solução, a médio e longo prazo, só a educação para possibilitar que esse quadro se reverta. O povo instruído irá repudiar esse formato de programas popularescos que invadem, de quando em vez, seu lar. As escolhas serão mais dignas de pessoas que sabem o que quer e constituirão a maioria do público que compra. Só assim os meios de comunicação atenderão a um projeto que, a cada dia, dignifique o homem como cidadão e jamais escolham o caminho do sadismo e da prevaricação como atração para um público que irá às compras.
Evitar a mostra da violência, a que título seja, tornará a sociedade mais apaziguadora nos seus espaços e construirá um futuro mais humano para as crianças que são vítimas, hoje, dos adultos e que, futuramente, se nada for feito, vingarão, sobre os idosos, os males que lhes causaram.
Já que nada pode acontecer de imediato, que a televisão faça, a todo o momento, a apologia ao saber consciente, levando a população maior ao amor pelo estudo. Só assim, seremos capazes de vender o que o povo quer, com alto nível, pois teremos, então, uma grande massa lúcida para programas que vendam qualidade.

Um comentário:

  1. Muito verdade seu texto. Existe uma grande preocupação dos estudiosos do comportamento humano neste sentido. O psicanalista Jean Lebrun nos seus livros "Um mundo sem limites: emsaio para uma clínica psicanalítica" e "A perversão comum: viver juntos sem outro" mostra como o homem está mudando e chega a pensar que está surgindo um novo-sujeito dominado por desejos perversos que são reforçados pela mídia e pelo capitalismo moderno. É importante a educação , o estudo... mas não podemos esquecer dafalta de limites simbólicos como a função paterna, tão desvalorizada e ausente nos tempos atuais, associada à impunidade e à corrupção, desperta uma realização de desejos e estabelece incertezas sobre o que é desejavel e o que é necessário. Embora se possa obter prazer do fato de desejar sem alcançar o desejado, este prazer jamais será equiparado ao que é proporcionado pela realização do desejo (desejo fora da concepção psicanalítica que é o desejo inconsciente que não pode ser realizado)
    É nesta falta de limite que aparece o sintoma mal-estar, cujo alívio é o consumo. Consomem-se tudo: produtos ideologias, práticas religiosas, sexo, entre outros.

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