Desde os meus 15 anos, ensino por gostar de rever os meus conhecimentos e sentir-me desafiado pelas perguntas que podem vir dos alunos. É um exercício que produz adrenalina tal quais os esportes radicais. Não sei se o “vício” de ensinar produz essa sensação em todos, mas em mim, sim.
Quando falo que não considero o magistério uma profissão é porque o investimento que se faz nessa ocupação para realmente atender à prerrogativa de um bom mestre, jamais é retribuído de forma pecuniária. A humanidade, com pouca informação pré-natal, não valoriza o aprendizado que será capaz de fazê-la viver com mais dignidade e ainda permitir a ela transmitir os conhecimentos adquiridos para seus descendentes.
Lembro-me dos idos de 1963, quando participava de trote na antiga Escola de Engenharia da Universidade do Recife, hoje a Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, e fazia o papel de Reitor. Um colega veterano me entrevistava, como povo, sobre o salário absurdo recebido pelos professores catedráticos (atualmente PhDs). Naquele ano, um catedrático ganhava, na moeda da época, CR$120.000,00 contra CR$130.000,00 recebidos por um ministro de 1ª Classe. (Fonte: Lei nº 4.242, de 17 de julho de 1963).
Já em 1964, um catedrático ganhava CR$300.000,00 iguais aos CR$300.000,00 de um ministro de 1ª Classe. (Fonte: Lei nº 4.345, de 26 de junho de 1964). Hoje, o maior salário de um professor da Universidade Federal, incluindo a Gratificação de Estímulo à Docência (GED) e o reajuste anual, é o do Professor-titular (Doutor) com dedicação exclusiva: R$ 6.533,00. (Fonte: Jornal da Ciência #656 de 06/11/09). Já um Ministro de 1ª Classe recebe, hoje, em torno de R$25.000,00.
Analisando os dois últimos parágrafos, sentimos que hoje o achatamento salarial do professor foi de mais de 75%, ou seja, ganha menos que 25% do salário de um ministro. O pior é que foram campanhas desencadeadas pelos próprios alunos, únicos beneficiados pelos professores, que levaram o Estado a provocar essa desvalorização do professor, promovendo agora o êxodo dos mesmos das salas de aulas. (Sugestão: pesquisar os anos 60).
A busca de pessoas que possam exercer a função de professor é bastante extenuante. Ser professor é, primeiramente, gostar do desafio em relação ao saber. Essa característica é inata. Pelé no campo, Michael Jackson na dança, Cauby no canto, professor na sala de aula, e assim por diante. Não se fabricam professores, eles já nascem feitos, necessitando apenas definir a sua especialidade. E isso é garantido pelo aprendizado, justamente com um professor.
As qualificações são consequências da própria função. Não é mestrado nem doutorado que fazem o docente. Para os que fazem a educação no Brasil o importante é saber transmitir o que se sabe e não falar do que se sabe. Quantos professores ensinam e têm a certeza de que, no futuro, aprenderão com seus discípulos de hoje? Poucos, creio. É preciso que os professores olhem mais para dentro de si e avaliem se o seu trabalho atingirá a proposta da pergunta deste parágrafo.
Construir mentes de futuro, no presente, é uma tarefa que jamais se esgota no salário mensal, por maior que seja, pois pertence ao imponderável e atemporal saber.
O professor é, acima de tudo, um intelectual. Ele tem de estar atento a tudo que o rodeia e, em especial, a temas relacionados à sua especialidade de ensino. É pautado no pragmatismo, que emana da teoria, que ele fará com que seus alunos evoluam rapidamente na capacitação cerebral. O docente deve amar o que faz, ser cúmplice dos seus colegas e da instituição de ensino onde trabalha na missão de ensinar.
Muitas vezes, os alunos criticam a escola pela falta de alguma coisa (setor de esportes, mais doutores,...), sem saber que essa falta é que está dando oportunidade a outro excelente acontecer (núcleo de acessibilidade, incubadoras,...). As dúvidas de seus alunos são a razão de você ali estar. A credibilidade de suas respostas está diretamente relacionada à sua forma de agir com segurança. Não é a crítica ou desrespeito a terceiros (seu coordenador, seu diretor...) que fará com que conquiste a simpatia dos seus alunos, muito pelo contrário, essas atitudes demonstrarão insegurança.
Concordo plenamente com essa tese. Sou professor há quinze anos e posso garantir que me sinto um privilegiado entre tantos outros de minha geração. Não que eu seja melhor que ninguém por ser professor, mas existe um sabor a mais quando a gente se dedica a ensinar. É um sacerdócio, é algo visceral. Está no âmago desses que se dão ao ensino simplesmente porque são poucos os que se dispõem a passar seu valioso conhecimento para as novas gerações.
ResponderExcluirComo diz o texto acima, do Prof. Wilson, do qual tive o privilégio de ter sido seu aluno, ensinar é uma oportunidade constante de renovação do saber, da pesquisa, do prazer de preparar um aula com uma nova informação. Oportunidade de ler novos livros, absorver novas idéias, além da possibilidade de desenvolver um grande debate sobre aquele assunto dado, trazendo curiosidades a respeito daquele tema da aula.
Sempre mostrando bom humor, levantando o moral da turma, muitas vezes cansada de um dia inteiro de trabalho e, quando chega a noite, ter uma aula de história da arquitetura, é preciso muito mais que conhecimento para fazer o aluno se concentrar na aula, o professor tem que, usando o que tem de melhor que é a convicção de que a cultura é necessária para enriquecer a alma, fazer o aluno participar da aula e nem perceber que já chegou a hora (21h45) do fim da aula.
É essa força, é esse compromisso, é essa alegria, que alimenta minha vontade, cada vez maior, de estar dentro de uma sala de aula. Essa experiência não tem preço.
Prof. Marcos Assis.