quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
QUEM NÃO VENDE SEU CORPO?
Costuma-se dizer que as prostitutas
vendem seu corpo e que o trabalho delas é sujo, “pecaminoso”, e ninguém
encontra justificativa para esse tipo de tarefa. Para abrirmos o diálogo sobre
como a sociedade funciona nesses casos, temos que antes firmar alguns conceitos
sobre o significado dos diversos comportamentos e funcionalidade do ser humano.
Inicialmente, temos que entender que
o nosso cérebro pertence ao nosso corpo e se alimenta de oxigênio e açúcar e,
assim, quando nosso trabalho intelectual acontece, existe um desgaste do nosso
corpo. A energia necessária ao exercício inteligente não vem do ar ou de
qualquer outro fluido imaginário, mas do nosso alimento regular. Ainda é válido
entender que o resultado do trabalho acontece para nos dá prazer assim como
para a nossa família através dos ganhos auferidos do nosso labor. Isso posto,
vamos observar que o médico plantonista é desgastado intelectual e fisicamente
durante os dias ou noites trabalhadas; o ajudante de obras soma horas extras de
conformidade com a urgência de finalizar um determinado projeto; um advogado
vira noites estudando processos, e, assim, poderíamos percorrer os diversos
setores de fazeres que contemplam o uso do corpo de seus feitores.
Como vemos, todo mundo vende seu
corpo em busca dos ganhos que irão dar prazer a si próprio e a seus familiares
ou coadjuvantes. Por que, então, o trabalho da prostituta é visto como
desprezível por vender seu corpo? Todos o vendem! Ah, é por que se usa o sexo?
E quem não usa? No trabalho se perde um braço, uma perna, um olho, a audição,
se contrai doenças e vai por aí. A prostituição é tão honrada como qualquer
outra profissão, o órgão sexual é parte do corpo como qualquer outro elemento!
O prazer que entra em jogo é tão igual como aquele que vem de outra prática
qualquer feita por querer, por gosto, por amor! Assim, todos que trabalham
vendem seu corpo! Não é a parte do corpo utilizada no serviço que define
trabalho sujo ou limpo. Não vamos ser hipócritas dizendo que todos só se
relacionam sexualmente para ter filhos!
O pensamento rasteiro da sociedade
sempre está a rotular as pessoas de forma a pouco fazerem pelas comunidades que
buscam sobreviver com trabalhos extraordinários, muitas vezes à noite, para
manterem suas famílias. Quando se prepara as pessoas intelectualmente, se dá
oportunidade de trabalhos menos desgastantes como o corpo a corpo, que se tornam
humilhantes dentro dos conceitos sociais.
A grande verdade é que a mulher, de
um modo geral, teme as prostitutas pela “concorrência” e, à luz das religiões,
tira a dignidade desse labor milenar.
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